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Como a câmera de Jorge Bodanzky revelou o Brasil escondido pela ditadura militar

  • MA Cult
  • 25 de mar. de 2024
  • 3 min de leitura

Exposição reúne obra do diretor de cinema no IMS de São Paulo, misturando fotografia e vídeo para mostrar “uma imagem de um Brasil que não tinha imagem” no aniversário de 60 anos do golpe de 1964


Por Carolina Azevedo e Eduardo Lima


Jorge Bodanzky filmando o Mito do Divino com Hermano Penna, São Luiz do Paraitinga, SP. 1968. Acervo Instituto Moreira Salles.


“Trabalhar com a realidade brasileira era um risco”, explica Jorge Bodanzky sobre seu tempo fotografando e filmando o dia a dia do Brasil sob o regime militar. Há 60 anos, entre os dias 31 de março e 1º de abril de 1964, o que era a “realidade brasileira” iria mudar radicalmente: o país perdeu seu presidente, João Goulart, e sua democracia em um golpe dos militares, mas não sem apoio de grandes empresários, da Igreja Católica, da mídia e dos Estados Unidos.


Durante os 21 anos seguintes, alguns dos setores que apoiaram o golpe nos primeiros momentos perceberiam seu erro, enquanto outros continuariam no barco dos militares (que, com seu apreço por obras faraônicas fadadas ao fracasso, pode muito bem ser o Titanic) até a “década perdida” de 1980, quando a corrupção e os problemas do projeto nacional de desenvolvimento dos militares não conseguiam mais ser escondidos. O Brasil voltou para a democracia em 1985 com as contas no vermelho, um país quebrado e violentado por tecnocratas autoritários.


Pronunciamento do presidente chileno Salvador Allende. Santiago, Chile, c. 1971. Jorge Bodanzky/Acervo Instituto Moreira Salles.


Essas duas décadas de repressão e transformação foram documentadas de perto por Jorge Bodanzky, diretor de cinema, fotógrafo e protagonista de uma nova exposição no Instituto Moreira Salles de São Paulo sobre seu trabalho durante a ditadura militar brasileira. Nos anos em que ele não podia “dar bobeira” e precisava tomar cuidado com o risco de ser um artista e um ativista, Bodanzky trabalhou como fotojornalista, câmera para vários filmes nacionais e realizou seus próprios projetos para o cinema e a televisão para mostrar o que acontecia no Brasil dominado pela censura e pela narrativa oficial do regime militar, “produzindo uma contra-imagem do país na ditadura”, como explica o curador da exposição, Thyago Nogueira.


Seu longa de estreia, Iracema: uma transa amazônica (1974), codirigido com Orlando Senna, foi censurado no Brasil até 1981. Após Iracema, dirigiu inúmeros filmes, dentre os quais destacam-se Gitirana (1975, codireção de Orlando Senna), Jari (1979, codireção de Wolf Gauer) e Amazônia, a nova Minamata? (2022). A formação de Bodanzky enquanto fotógrafo ajuda a entender seu trabalho como diretor: “quando eu me senti maduro o suficiente para fazer meu primeiro trabalho como direção, eu já tinha uma experiência de câmera. A minha direção, até hoje, é sempre através da câmera”, afirma. De fato, o estilo único de fotografia é perceptível em seus filmes, que se aproveitam do movimento da câmera – sempre nas mãos do diretor, em vez do tripé – para organizar a cena.


Seu estilo de filmar também reflete a realidade social em que se inseriam suas produções: “ao trabalhar em momentos de risco, você incorpora isso”, define o diretor. A câmera na mão, o som direto, as atuações improvisadas e a Kombi ao lado, pronta para abrigar a pequena equipe e dar partida, viraram a marca de um cinema que foge da opressão para construir a contra-imagem do Brasil sob a ditadura.

“Uma imagem que a ditadura não queria que existisse e que a gente não via em outras formas. Todo mundo estava amordaçado nesse período”,

comenta o curador Thyago Nogueira. Enquanto canais de televisão, jornais e revistas sofriam com a censura, o cinema conseguia driblar os militares. Contudo, Bodanzky adverte: “você não pode dar bobeira. Tem que ser simples e rápido. Se você começa a enrolar muito, aí não dá certo”.


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